quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Tertúlias de futsal


Por uma Arbitragem Educativa... Além de Punitiva


Assisti a muitos jogos de Futsal de crianças. Refiro-me a jogos oficiais de campeonato distrital. Esses onde, equivocadamente, os treinadores, dirigentes, organizadores, pais, público, etc... insistem na manutenção de um ritual semelhante ao que se encontra nos jogos de Futsal de grandes patamares. Significa dizer que não há a menor preocupação do sistema em evitar possíveis atitudes encontradas no jogo do adulto que, penso, são irrelevantes no jogo da criança. De quais atitudes falo? Ouso enumerar algumas, mas certamente esquecerei de outras:
. Tipos de aquecimento;
. Formalidade de entrada em campo e atitudes decorrentes;
. Rígidos sistemas de jogo;. Excesso de jogadas pré-estabelecidas;
. Níveis de exigência elevados;
. Comportamento de alguns árbitros;
Sobre esses últimos, vou falar um pouco mais.
Não há dúvida de que o árbitro deve punir, o que se infringe das regras, de cada uma delas. Do ponto de vista pedagógico, o árbitro, necessariamente, não é quem ensina regras. Sua função é fazer com que sejam cumpridas. Observo, uma vez por outra, árbitros a ensinar uma criança, esta ou aquela regra, repetindo o lance, dando mais uma hipótese. Há algum problema? Penso que sim e não. Não, porque demonstra uma certa empatia com a criança iniciante. Sim, porque são casos isolados: nem todos os árbitros comportam-se assim. Logo, não há um critério. A falta de um consenso poderá gerar uma série de problemas.
Voltando à pedagogia, quem deve ensinar as regras é o treinador. Se a criança não sabe regras é porque o treinador não ensina. Não se pode esperar que o árbitro seja flexível com possíveis infracções às regras. Muitos treinadores querem que os árbitros, em jogos de crianças, sejam menos rigorosos com as regras. No entanto, esses mesmos treinadores são muito pouco flexíveis em exigência no que se refere ao desempenho das crianças.
Como referi acima, o cumprimento das regras, não é adequada para a criança muito pequena. Penso que é aplicada à criança de 9 a 12 anos. Por que? Porque nessa fase elas têm maior capacidade de concentração, importam-se com os resultados e podem cooperar mais. De uma maneira geral, crianças de 5 a 7 anos não guardam um grande número de regras. Jogam, por vezes, cada qual à sua maneira. Defendo por isso que o jogo de Futsal destas crianças deveria ser diferente: mais lúdico e divertido. Sem o rigor e o ritual dos campeonatos oficiais.
Portanto, os árbitros devem cumprir o seu papel: punir as possíveis violações às regras, mesmo que sejam realizadas por crianças. Entretanto, além de punir, sugiro que se preocupem em educar. Para isso, precisam entender um pouco mais de crianças, de educação. Quanta diferença poderá fazer um árbitro num jogo de crianças se puder entendê-las melhor!
A meu ver os árbitros de crianças seriam aqueles que, além de talentosos, estariam abertos ao estudo. Essa coisa de escalar árbitros que querem chegar à arbitragem da categoria principal iniciando na infância, para ganhar experiência, deixa muito a desejar. Para obterem uma boa avaliação - porque árbitro bom é aquele rigoroso e que passa pelo jogo despercebido - se comportam com muita rigidez: pouca conversa, pouca paciência, muito "apito", "dura" e indiferença.
Mas, como o árbitro poderia educar? Penso que caminharia para isso se estudasse mais, ouvisse mais, conversasse mais, acalmasse mais, se acalmasse, tocasse mais, sorrisse mais, abraçasse mais. A criança deve se encontrar com o árbitro. Gostar do árbitro. Mas, como fazê-lo se esse faz questão do isolamento e da indiferença? Criança precisa de atenção, de afecto, não dá para tratar igual, do ponto de vista emocional, um jovem ou adulto.
Quando observo os jogos de escolas e infantis, penso nas coisas boas que poderíamos fazer...
Já não basta à criança, infelizmente e em alguns casos, conviver com o comportamento ignorante (no sentido de ignorar) de muitos pais, treinadores e dirigentes? Por isso creio na relevância da actuação do árbitro.
Árbitros inteligentes poderão investir nas relações.
Adaptado de: Wilton Carlos de Santana (prof. educação fisica e treinador de futsal)

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